Dona Onete retorna à Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes como uma das atrações musicais desta quarta-feira, 21
A rainha do carimbó chamegado, que conquistou o público ao redor do Brasil e do mundo, se apresenta na 27ª edição da maior feira literária do Norte, que acontece dos dias 17 a 25 de agosto. Dona Onete retorna à programação após ter sido uma das homenageadas na edição de 2022. A artista se apresenta na Arena Amazônia, às 20h.
Reafirmando o objetivo da feira de amplificar a voz das diversas formas de se fazer cultura na Amazônia, a cantora conversou com a Secretaria de Estado e Cultura (SECULT), organizadora da feira, sobre os seus últimos feitos na música, como o lançamento do seu último álbum, lançado em junho, “Bagaceira”, e o reconhecimento que tem recebido fora do país.
1. No ano passado, em 2023, a sua obra musical foi declarada patrimônio cultural de natureza imaterial do Estado do Pará. Qual foi a sensação de receber esse reconhecimento?
Eu fiquei muito feliz, agradeci muito, primeiramente a Deus, depois ao povo do Pará e às pessoas que fazem Assembleia Legislativa, que foi lá que aconteceu tudo isso. Eu fiquei muito, muito agradecida, muito feliz. Que bom, que em vida eu recebi esta homenagem.
2. Como está sendo retornar a Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes depois de ter sido uma das homenageadas da edição de 2022? Como foi a experiência de ter sido enaltecida?
No princípio, fiquei bem preocupada. Mas depois eu pensei: ‘Se eu fui escolhida, é porque eles veem algo em mim, no meu trabalho’. Fiquei feliz por ter sido escolhida e pelo apoio. Foi em um período tão difícil, logo depois da pandemia, mas o povo foi em peso, lotou, e eu fui ovacionada, muito aplaudida. Isso é muito bom para uma professorinha que vem lá do interior ser lembrada como escritora. Eu já sou compositora, mas não sabia que era escritora. Consegui chegar no coração das nossas crianças, então isso me deu muito mais felicidade.
3. Recentemente, em junho deste ano, a senhora lançou mais um álbum, o “Bagaceira”. Como se deu a construção desse trabalho?
Não começou agora, desde criança, venho contando uma história lá do município de Igarapé-Miri, de quando eu tinha uns nove para dez anos. Existe uma festa no interior muito antiga da família Borges, era famosíssima. Todo mundo que morava em Belém fazia de tudo para ir, no mês de janeiro, e eu fui uma ou duas vezes com a minha tia. Eu via aquela confusão que acontecia. O pessoal dançava e logo iam para o porto, chegavam lá, voltavam de novo, já estavam muito doidos, por causa da bebida. Era uma confusão danada, as crianças fugindo para não ir embora porque tinha muito doce, vendido pelas doceiras. Eu sei que era uma confusão, uma bagaceira. E quando a gente ia embora, já era quase na hora do almoço e não tinha ninguém pra fazer a comida. Eu pensava: ‘Que diacho de festa é essa que a gente vai e quase não termina?’. Durante toda a minha vida eu vi muita bagaceira acontecendo aqui no Pará, onde a festa vai até o amanhecer, principalmente agora com os ritmos paraenses. O nosso estado tem muito a mostrar.
4. Depois de tantos anos dedicados à educação, qual significado a senhora atribui à Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes?
Temos muita poesia aqui no Estado. Se você olhar com muito carinho, vai achando a poesia por você mesmo. Aqui no Pará somos ricos no âmbito da literatura, muitos escritores e escritoras talentosos. Esse incentivo a leitura é ótimo para todos, especialmente para nossas crianças. Eu estou muito feliz de novo. Quero que venha mais Feiras Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes para apresentar outro poeta, outro professor, outro escritor que está esperando também a sua vez. Além disso, fico feliz demais de ter um livro muito lindo, para botar na estante, para as crianças lerem a hora que quiserem, que vai durar bastante tempo.
5. Como foi/ tem sido vivenciar uma carreira internacional, levando a sua essência musical e a cultura paraense para tantos países?
Na primeira vez, eu fui somente para Portugal, representando o Brasil. Graças a Deus, eu me saí bem. Depois eu fui para a França, atravessei o mundo com a nossa cultura, mostrando o nosso carimbó, com as letras bem definidas, porque o povo caboclo fala de um jeito bem característico. Fui levando o nosso ritmo, o chamegado, e o nosso público fora do Brasil entendeu. Quando eu falava alguma coisa, não sei se eles entendiam, mas sorriam comigo e aplaudiam. Hoje em dia, graças a Deus, eu só viajo pelo Brasil porque eu não estou dando conta de viajar para fora devido à minha deficiência. Mas eu ainda espero fazer muita coisa.
Por Comunicação (Feira do Livro)